O objetivo deste estudo é fornecer uma descrição semântica dos verbos modais do português no âmbito de uma teoria de ação capaz de captar até nuances de verbos quase sinônimos e evidenciando sua função na comunicação. No resumo em português (pp. 587-614) apresenta-se uma descrição abreviada de mais de 80 verbos de semântica modal.
Analisando-os no âmbito de uma teoria de ação, os verbos modais servem para designar objetivos acionais (p.ex. querer, desejar, pretender, ir), para falar de alternativas acionais eligíveis (p.ex. poder, saber, ser capaz de), para ponderar alternativas acionais (p.ex. dever, ter de, ter que, precisar, convir, urgir) ou avaliá-los (p.ex. valer, importar) ou, no uso epistêmico, para marcar inferências ou especificar a categoria da fonte da informação. Ora, saber falar sobre seus objetivos acionais, qualificar, ponderar e avaliar as alternativas acionais em vista de um objetivo acional, marcar inferências ou indicar a fonte da informação faz parte do núcleo das competências comunicativas.
A escassa pesquisa lingüística sobre os verbos modais do português está voltada quase exclusivamente aos verbos poder e dever, e não dá conta do fato do sistema dos verbos modais em português ser muito rico em nuances, se bem que se trata de um sistema menos integrado cujos verbos são relativamente pouco gramaticalizados.
Dado a escassez da pesquisa lingüística sobre os verbos modais do português a primeira parte deste estudo (pp. 11-263) é dedicada à reflexão crítica de questões teóricas básicas quanto aos verbos modais:
a historia do conceito de verbo modal; os verbos modais na história da gramaticografia luso-brasileira; a questão da delimitação; resultados da pesquisa sobre a sintaxe dos verbos modais na gramática gerativa e na gramática de valências; a gramaticalização; o conceito de modalidade nas tradições lógica, semiótica e gramatical; a localização dos verbos modais dentro da modalidade e dentro de uma gramática comunicativa; os problemas da descrição semântica dos verbos modais; a teoria de ação.
Na segunda parte (pp. 265-461) apresenta-se a descrição semântica dos verbos modais ressaltando também certas implicações para os usos pragmáticos. A descrição semântica baseia-se numa ampla análise de corpus do português brasileiro e europeu falados e escritos considerando também amostras exemplares das variantes africanas (ao total mais de 25.000 exemplos textuais). No anexo do estudo acha-se além disso uma análise estatística do corpus.